Page 54 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaRepetição na clínica: o que de novo se escreve

A clínica é o que mobiliza Lacan em direção ao real. Duran-
te o período que sucede “O Seminário 11: os quatros con-
ceitos fundamentais da psicanálise”, de 1964, ele vai traba-
lhar o objeto a como mais-de-gozar e, depois, os discursos
para introduzir o discurso analítico. Lacan só vai retornar
a pensar a repetição em “O Seminário 19: ...ou pior”, de
1971-1972, mas, agora, retomando os impasses na clínica
que Freud pontua em “Análise terminável e interminável”,
de 1937. Nesse artigo, Freud vai localizar que há um quan-
tum de energia pulsional que sobra no final de uma análise
e que faz dela uma análise interminável e que a recusa do
feminino é o que resiste no final de uma análise. Era, por-
tanto, do campo pulsional que se tratava. Nesse Seminário
19, Lacan vai tratar da repetição no campo do gozo a partir
do real da estrutura. Aí, ele vai destacar o Há-um, o signifi-
cante Um e introduzir o aforismo “não há relação sexual”.
Isso é, para Lacan, dizer que o campo do gozo é marcado
por um significante Um, que está fora da ordem fálica e
que amarra a estrutura. Esse significante é um conjunto
aberto de letras. Letras que são vazios de significação, que
estão fora da linguagem, portanto ele pertence ao campo
do simbólico e opera no real. É nesse vazio que se aloja o
conteúdo recalcado e que são marcas de gozo, letras.

No texto “Lituraterra”, Lacan nos diz: “O recalcado con-
segue se alojar com referência à letra” (LACAN, 1971,
p.117). É a letra que serve de apoio ao significante. Assim
ele divide a letra, que é do campo do real; e o significante,

54 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 51-59, 2018
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