Page 56 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaRepetição na clínica: o que de novo se escreve

Na experiência de análise, a repetição do circuito da pulsão
pode escrever algo novo. Aí é que o gozo vai se separando
do desejo. Ao fazer semblante do objeto a, causa de desejo,
o analista marca o sujeito com a falta e permite que ele, em
algum momento de sua análise, possa sair da repetição que
produz sintoma e loucura. O sujeito em análise, a cada re-
petição, vai sendo marcado pela falta, vai circunscrevendo
essa impossibilidade como falta. Isso introduz a diferen-
ça no circuito da repetição, fazendo surgir o desejo, que é
falta.

O analista opera se valendo do discurso analítico. Nele, o
S1 vai ser extraído do S2, que nesse discurso ocupa o lu-
gar da verdade. Esse S1, produto do discurso analítico, vai
aparecer com o dizer do analista, que opera pelo equívo-
co que faz semblante a. Essa é uma operação lógica que é
pura torção de voz e que faz aparecer elementos dos sons
de lalangue, que são próprios daquele sujeito. Em “O Se-
minário 18: de um discurso que não fosse semblante de
objeto a”, Lacan vai dizer que “esse S1 produzido pelo
discurso analítico é realmente o ‘nome-do-pai’” (LACAN,
1971, p.161). Esse S1 (Um) está desarticulado do S2, o que
faz aparecer a não relação sexual. Esse significante Um é
o único meio de alcançar algo do recalcado, que é formado
por esse conjunto de letras. Letras que são sons e matéria
da linguagem. O discurso analítico opera perda de gozo do
Outro. Nesse processo, opera-se a redução do sujeito ao
singular de sua estrutura em direção ao real. Ele é reduzido

56 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 51-59, 2018
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