Page 53 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Crasso Campanha Parente

seu livro “Foraclusão: presos do lado de fora”. Esse recal- A economia pulsional, o gozo e sua lógica
que dá origem ao fora e ao dentro ao mesmo tempo – fora
da representação –, mas dentro da estrutura. É o que defi-
ne o real como ex-sistência e como furo no simbólico, mas
o que deixa inscritas marcas de gozo, letras. Isso permite
o aparecimento dos juízos de atribuição e de existência. A
existência e ex-sistência surgem juntas, definindo o campo
do simbólico e do real. O real que se origina nesse proces-
so já é um real enlaçado à estrutura. Esse processo mar-
ca a entrada do sujeito no campo do gozo e da linguagem
e permite a escrita do nó Borromeano e das modalidades
de gozo: gozo do Outro, gozo fálico, gozo do sentido e o
mais-de-gozar. O que se perde nesse processo é o objeto
da primeira experiência de satisfação, que são essas mar-
cas de gozo. A pulsão visa repetir a primeira experiência de
satisfação que não será alcançada plenamente, o que será
sempre faltosa, porque o objeto da satisfação inicial, Das
Ding, está para sempre perdido, pois essas marcas estão
recalcadas.

Nesse lugar vazio, de falta, Lacan posiciona o objeto a, que 53
apresenta funções diferentes, de mais-de-gozar no campo
do gozo e de causa no campo do desejo. Sendo assim, o
sintoma repete o circuito da pulsão, do gozo inscrito por
essas marcas, o que produz mal-estar. O recalque é uma
falha na tradução, é essa falha que se recalca, porque na
tradução está implicado sempre esse intraduzível, que in-
siste em não se inscrever. A repetição está relacionada ao
que ex-siste, que é o real da estrutura.

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 51-59, 2018
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