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Maria Aparecida Oliveira do Nascimento

Apesar da tentativa de enquadrar o sujeito, ele resiste, A clínica psicanalítica e suas possibilidades no sistema prisional
recusa-se a comer, faz exigências, briga, tenta se matar e a
outrem, surta, subverte a disciplina. É preciso escutar isso,
saber qual real está em jogo, muitas vezes para evitar uma
passagem ao ato.

Apesar de toda vigilância e segurança, existe um lugar de
acolhimento desse particular, uma escuta interessada, que
faz laço e que pode ter um efeito sobre esse sujeito.

O que há de verdadeiramente humano para a psicanálise é,
decerto, o sintoma, ou seja, aquilo que é singular de cada um
e que permite aos homens fazer laço social. A psicanálise é
uma prática que deve ser inventada, pois traz consigo a rela-
ção com o impossível e pode causar mal-estar na instituição
por ir ao contrário de uma normatização.

O que acontece então com a detenta quando de seu encon-
tro com um psicanalista? A aposta é que nesse encontro,
mesmo distante de um enquadramento analítico habitual e
que pode ficar limitado a apenas um encontro, bem como
na ausência de uma demanda espontânea que possa ge-
rar um efeito surpresa, seja aberta a possibilidade de um
questionamento sobre os motivos que a trouxeram ali, fa-
zer com que ela se pergunte pelo seu desejo.

Para Freud (1913), o analista é certamente capaz de fazer
muito, mas não pode determinar, de antemão, exatamente
quais os resultados que produzirá.

Para Lacan, a psicanálise soluciona um dilema da teoria
criminológica: ao irrealizar o crime, ela não desumaniza o

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 129-138, 2017 135
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