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Maria Aparecida Oliveira do Nascimento

por não ter espaço apropriado para esse fim, nessa unidade A clínica psicanalítica e suas possibilidades no sistema prisional
e, em grande parte, nas demais unidades prisionais. A ou-
tra questão é a quantidade de alimentação, que é a mesma
para homens e mulheres, ou seja, não há diferenciação, as-
pecto que deveria ser levado em conta devido às diferenças
biológicas entre eles.

Outros impasses vividos pela parte técnica são a questão da
segurança e a escassez de recursos, tanto materiais quan-
to de pessoal, sem locais adequados para a realização dos
atendimentos com privacidade, o que torna essas indica-
ções, por vezes, difíceis de serem cumpridas.

Em se tratando dessas dificuldades, podemos pensar: é
possível uma clínica psicanalítica em uma unidade pri-
sional, há um lugar para um psicanalista neste ambiente?
Sabemos que sua prática, nesse local, está limitada à lei
dos homens, articulada a outros profissionais e às regras
de segurança.

Para Lacan (2003), a psicanálise pode ser aplicada em di-
versos contextos, ser presentificada no mundo, inclusive,
no sistema prisional. Para tanto, é necessário que se faça
a escuta do sujeito apenado, que este tenha uma demanda
para tratamento e que se opere com a transferência.  

A psicanálise possibilita um tratamento em que o sujeito 131
não fica alienado em si mesmo e trabalha com a noção de
responsabilidade do sujeito na sua relação com o Outro e
a lei. Através da transferência, busca-se a singularidade de
um sujeito.

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 129-138, 2017
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