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A clínica psicanalítica e suas possibilidades no sistema prisionalEnlace
de Estado de Administração Prisional – SEAP, em termos
de produtividade de atendimentos: além do atendimen-
to individual, temos vários trabalhos ligados a atividades
sociais, campanhas de saúde, grupo de narcóticos, assim
como uma demanda que vem dos outros setores quando a
“presa dá trabalho”, “está surtando”. Acredito que o fato
de ser um presídio feminino, e a segurança ser coordena-
da por mulheres, aparece uma certa sensibilização quanto
às necessidades de um atendimento. E temos também a
demanda espontânea, que em mulheres é maior do que a
dos homens. Aos domingos, as presas, de acordo com suas
necessidades, têm o direito de escrever um “fale comigo”,
um pequeno bilhete endereçado aos profissionais da uni-
dade. Nem sempre a demanda dirigida ao setor psicosso-
cial (serviço social e psicologia), como chamamos, tem a
ver com uma demanda de atendimento. Muitas vezes, a
demanda é apenas buscar notícias sobre a família por meio
de um telefonema, ou solicitar remédios. Mas, sempre é
possível, a partir dessa acolhida, aparecer uma demanda de
ser escutado em sua angústia. Essa intervenção pode ser
possível apesar de todas as dificuldades institucionais. Só
não podemos perder de vista a ética da psicanálise. É o que
vai sustentar o trabalho do inconsciente. Este não se deixa
aprisionar pelos muros da prisão.
É um desafio constante para fazer vigorar o discurso analí-
tico, e isso só pode ser feito pelo desejo do analista. Cabe a
ele garantir as condições de escuta desse sujeito buscando
produzir um discurso e um movimento na direção contrá-
ria ao Código Penal.
134 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 129-138, 2017
de Estado de Administração Prisional – SEAP, em termos
de produtividade de atendimentos: além do atendimen-
to individual, temos vários trabalhos ligados a atividades
sociais, campanhas de saúde, grupo de narcóticos, assim
como uma demanda que vem dos outros setores quando a
“presa dá trabalho”, “está surtando”. Acredito que o fato
de ser um presídio feminino, e a segurança ser coordena-
da por mulheres, aparece uma certa sensibilização quanto
às necessidades de um atendimento. E temos também a
demanda espontânea, que em mulheres é maior do que a
dos homens. Aos domingos, as presas, de acordo com suas
necessidades, têm o direito de escrever um “fale comigo”,
um pequeno bilhete endereçado aos profissionais da uni-
dade. Nem sempre a demanda dirigida ao setor psicosso-
cial (serviço social e psicologia), como chamamos, tem a
ver com uma demanda de atendimento. Muitas vezes, a
demanda é apenas buscar notícias sobre a família por meio
de um telefonema, ou solicitar remédios. Mas, sempre é
possível, a partir dessa acolhida, aparecer uma demanda de
ser escutado em sua angústia. Essa intervenção pode ser
possível apesar de todas as dificuldades institucionais. Só
não podemos perder de vista a ética da psicanálise. É o que
vai sustentar o trabalho do inconsciente. Este não se deixa
aprisionar pelos muros da prisão.
É um desafio constante para fazer vigorar o discurso analí-
tico, e isso só pode ser feito pelo desejo do analista. Cabe a
ele garantir as condições de escuta desse sujeito buscando
produzir um discurso e um movimento na direção contrá-
ria ao Código Penal.
134 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 129-138, 2017