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A clínica psicanalítica e suas possibilidades no sistema prisionalEnlace

Lacan (2003) nos aponta que a verdade a que a psicanálise
pode conduzir o criminoso não pode ser desvinculada do
respeito pelo sofrimento do homem.

Cada sujeito tem a sua complexidade e a sua singularidade
e, para tanto, existem vários fatores motivacionais ou de-
sencadeantes para a prática de um ato criminoso. Um den-
tre eles se destaca: é a falta da lei paterna, ausência de um
pai simbólico que introduza a metáfora paterna. Tanto para
Freud quanto para Lacan, é o pai que é o responsável pela
instauração do desejo. O pai tem como função articular o
desejo com a lei, o que dará suporte à estrutura psíquica.
Para Zenoni (2007), a paternidade é um ato de fé, pois ele
se constitui como uma premissa, uma hipótese.  Partindo
do ditado popular “a mãe é certa e o pai é incerto”, mesmo
com a modernidade e o descobrimento do DNA, a mãe é
que é a responsável por inscrevê-lo, enquanto um signifi-
cante no inconsciente de seu filho. Nomear a função pater-
na, enquanto metáfora, significa incluí-la na ordem sim-
bólica, dando possibilidade de falar do objeto mesmo em
sua falta. Em decorrência da destituição do sujeito que está
submisso e alienado ao objeto, é a lógica do excesso que
passa a orientar os crimes, e o crime praticado pode ser
pensado como uma defesa contra a angústia em decorrên-
cia do mal-estar moderno. Freud (1916) defende a noção
de um sentimento de culpa que preexiste à passagem ao
ato e, estando entrelaçado ao Complexo de Édipo, o sujeito
se vê diante de duas questões: matar o pai e ter relações
com a mãe.

132 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 129-138, 2017
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