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Eduardo Lucas Andrade

Diante disso, a pergunta que eu fazia a mim mesmo era: o
que desse suposto conhecer torna suportável à pessoa di-
zer do que se padece da existência?

Dramas de toda sorte tocavam primeiramente o analista. Transferência na clínica em cidade pequena
Conforme propõe a lógica ferencziana, o analista deve cui-
dar de se questionar enquanto condutor do tratamento e
não se contentar em resumir qualquer fracasso de trans-
ferência às resistências do paciente. As resistências do pa-
ciente demandam elasticidades técnicas, não éticas – isso é
importante salientar.

É com Ferenczi (1928) que autorizações desse tipo podem
soar levemente possíveis. Assim é necessário deixar a hipo-
crisia profissional de lado e ativar o tato, para que seja pos-
sível uma experiência de análise, uma vez que o fato de o
paciente ir à clínica é por si mesmo um ponto de esperança
e uma aposta no inconsciente.

Devido à análise mútua em jogo na clínica, postulado fe-
rencziano que aponta as interpretações que os pacientes
fazem dos analistas – a hipocrisia profissional –, esta é fa-
cilmente desmascarada pelo paciente perspicaz. Se o ana-
lista atendê-lo, ou com excesso de semblante, ou se tentar
negar a existência da contratransferência, misturando as
coisas, ele será destituído de seu lugar.

Só não é possível atender aqueles que o analista não conse- 121
gue escutar por julgá-los tão próximos a si. O atendimento
em psicanálise se sustenta no fato de que há um impossí-
vel em atender. Não se atende para atender a demanda e

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 117-126, 2017
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