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Transferência na clínica em cidade pequenaReal da experiência
Quanto à questão da autorização, o que percebi, depois de
muito conversar com analistas já experientes, é que realmen-
te a resistência primeva é do analista, da qual a resistência do
paciente se faz de reflexo. De todo fato, a autorização num
ambiente dessa espécie pode soar familiarmente estranha –
Unheimlich – tanto ao analista quanto ao paciente: esperada
por um ponto, inesperada por outro.
Muito se diz do desejo de analista, e aqui quero chegar nele
dizendo pela minha experiência da resistência de analista.
Por causa da resistência de analista que eu tinha, fui abrir
consultório em outra cidade, e, muitos pacientes que mo-
ravam na cidade pequena, em que vivi toda a minha vida,
começaram a ir lá também. Atravessavam cidades para se-
rem atendidos. Algo do desejo do paciente, dessa aposta,
do suposto conhecer, dizia mais alto que a minha resistên-
cia de analista. Algo insistia em ser escutado! A psicanálise
nasce com a escuta do paciente e com a transferência.
Foi assim que me autorizei a atender naquela cidade com
cerca de oito mil habitantes. Para minha surpresa, casos
de tentativa de autoextermínio foram lotando a clínica. E
diziam: “Vim aqui, pois te conheço e sei que sempre foi sé-
rio”; “Não tenho coragem de procurar outro profissional”;
“Esperei anos para procurar, só vim por ser você”. É claro
que não era algo pessoal. Era transferencial, uma aposta
clínica se fazia.
Entre esses casos, havia outros casos gravíssimos de ten-
tativas concretas de autoextermínio: carro jogado na pon-
te, carro jogado no barranco, pulsos cortados até no osso.
120 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 117-126, 2017
Quanto à questão da autorização, o que percebi, depois de
muito conversar com analistas já experientes, é que realmen-
te a resistência primeva é do analista, da qual a resistência do
paciente se faz de reflexo. De todo fato, a autorização num
ambiente dessa espécie pode soar familiarmente estranha –
Unheimlich – tanto ao analista quanto ao paciente: esperada
por um ponto, inesperada por outro.
Muito se diz do desejo de analista, e aqui quero chegar nele
dizendo pela minha experiência da resistência de analista.
Por causa da resistência de analista que eu tinha, fui abrir
consultório em outra cidade, e, muitos pacientes que mo-
ravam na cidade pequena, em que vivi toda a minha vida,
começaram a ir lá também. Atravessavam cidades para se-
rem atendidos. Algo do desejo do paciente, dessa aposta,
do suposto conhecer, dizia mais alto que a minha resistên-
cia de analista. Algo insistia em ser escutado! A psicanálise
nasce com a escuta do paciente e com a transferência.
Foi assim que me autorizei a atender naquela cidade com
cerca de oito mil habitantes. Para minha surpresa, casos
de tentativa de autoextermínio foram lotando a clínica. E
diziam: “Vim aqui, pois te conheço e sei que sempre foi sé-
rio”; “Não tenho coragem de procurar outro profissional”;
“Esperei anos para procurar, só vim por ser você”. É claro
que não era algo pessoal. Era transferencial, uma aposta
clínica se fazia.
Entre esses casos, havia outros casos gravíssimos de ten-
tativas concretas de autoextermínio: carro jogado na pon-
te, carro jogado no barranco, pulsos cortados até no osso.
120 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 117-126, 2017