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Maria Luiza Bassi Função de nominação

O que Lacan nos propõe é uma possibilidade de
operação clínica que vai além do Édipo, das identificações,
das fixações neuróticas. Questiona os limites da metáfora
e da metonímia. Em uma cadeia, qual seria o máximo
permitido da substituição de um significante pelo outro?
Haveria uma infinitização de gozo já apontada por Freud
no texto de 1937? Qual a maneira de operar com algo que
não cessa de se escrever, que diz de uma impossibilidade?

Na lição de 11/02/1975, Lacan nos lança a questão
da interpretação analítica que estaria bem mais longe que a
palavra produzindo um efeito de sentido que não é o sentido.
O trabalho a ser feito, a partir do discurso do analista, seria
de isolar a categoria do significante extraindo-se dai um
sentido isolável que não seria imaginário nem simbólico,
mas da ordem do real. Nesse ponto preciso do ato analítico
surge um efeito de fascinação, produto da extração do
objeto a causa de desejo. Por um triz, o a como vazio,
como falta, aciona a divisão do sujeito, promovendo um
furo como mostração do inconsciente real. O que se exige
do discurso analítico é tentar delimitar ao máximo o que
pode ser o real de um efeito de sentido para que o dizer
faça nó. A direção da cura seria fazer com que esse nó seja
borromeano a partir da função do três do real, terceiro anel
passando pelo buraco próprio da estrutura. O neurótico
tenta fazer o laço a dois segundo o modelo do nó olímpico.
Três é o enodamento borromeano, ele já é uma solução
que opera como suplência à relação de dois que não há.

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 103-109, 2016 107
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