Page 71 - revista_ato (1)
P. 71
Marília Pires Botelhoangústia, nominação real

O que está no cerne desta questão é a necessidade,
para o sujeito, de fazer a cadeia de significantes – esse mundo
de signos alucinados que se deslocam metonimicamente –
parar em algum lugar, ou seja, encontrar um significante
capaz de articular ao mesmo tempo o desejo do sujeito e o
desejo do Outro.

O falo simbólico é justamente o significante que
possibilita essa articulação e que pode fazer parar o reenvio
indefinido da cadeia. Mas, se por um lado o sujeito encontra
aí certo apaziguamento, por outro, o fato de o significante
fálico só poder vir para o campo do sujeito enquanto falo
imaginário, traz um conflito, também imaginário: o sujeito
vislumbra a possibilidade de tê-lo, e consequentemente de
ser privado dele – o que provoca os efeitos sintomáticos do
complexo de castração.

O falo simbólico, além de ter esse suporte
imaginário, tem, também, um suporte real, por se projetar
sobre um órgão que faz parte da imagem do corpo. Lacan
faz a seguinte afirmação no Seminário da Angústia: “... eu
lhes disse que nada falta que não seja da ordem simbólica.
Mas a privação, por sua vez, é algo real...” (LACAN, 2005,
p.150). É a falta real de um objeto simbólico.

Lacan ao nos alertar que a angústia nos introduz
numa função que é radical – a função da falta – e que a
falta é radical na própria constituição da subjetividade, diz
que “gostaria de enunciá-la com a seguinte formulação: a

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 69-77, 2015 71
   66   67   68   69   70   71   72   73   74   75   76