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Marília Pires Botelho

Mas, não se trata do apagamento dos vestígios.

Sabemos que os vestígios não se apagam, mas trata-se do

retorno do significante ao estado de traço. “O significante

é aquilo que salta com a intervenção do real” (LACAN,

2005, p.168).

E o real, ao mesmo tempo em que remete o su-

jeito ao traço, o abole. Pois, só há sujeito através do signi-

ficante.

Para tentar avançar um pouco mais ainda na

máxima lacaniana “A angústia como manifestação específica

do desejo do Outro”, recorro à topologia.

Lacan, para pensar a questão do sujeito e,

mais especificamente, a questão da identificação, toma a angústia, nominação real

superfície do toro – uma figura da topologia – e diz que o

sujeito não vê que, nas voltas da demanda dirigida ao Outro,

ele tem acesso ao seu desejo.

Ele faz uma volta em torno do furo central

onde se esboça o objeto que causa seu desejo – o objeto

a. A demanda, no que se repete, desenha o objeto como

faltoso, sempre fracassado. Fracasso estrutural e, portanto,

fundamental à demanda.

O que já sabemos com Lacan é que o próprio
objeto como tal, enquanto objeto do desejo, é o efeito da

impossibilidade de o Outro responder à demanda. O
objeto a “... é uma falta que o símbolo não supre. Não é
uma ausência contra a qual o símbolo possa se precaver”

(LACAN, 2005, p.152).

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 69-77, 2015 73
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