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Margareth Almeida Khattar

a dimensão temporal que se abre com a angústia a coloca

entre o gozo e o desejo.

Cabe nesse momento um breve recorte sobre a

questão da feminilidade posta na dinâmica de um modo de

gozo próprio à mulher. Ao articular manifestações e vicissi-

tudes sobre a feminilidade, Freud – nas formulações sobre

o complexo de Édipo – ressalta especificidades próprias ao

menino e à menina, mas mesmo apontando essas diferenças

considera as consequências psíquicas enodadas à questão e

ressalta articulações entre a castração e o falo. Ao partir de

uma identificação viril ao pai pelo ideal do eu, para ambos

os sexos, o que abre a possibilidade para o desejo, é preciso

lembrar que à menina resta ainda se fazer mulher. angústia, nominação real

Nessa sucessão de manifestações e vicissitudes

diante do feminino, retomando sobre a função da angústia,

e relembrando Freud, onde a angústia é essencialmente

angústia diante de algo, com Lacan concluímos que é

preciso ir mais longe, pois esse algo diante do qual a angústia

funciona como sinal é da ordem da irredutibilidade do real.

“… a angústia, dentre todos os sinais, é aquele que não

engana” (LACAN, 2005, p.178).

“... Coisa primária e que põe em movimento o

recalque...” (FREUD, v. XX, 1996, p.111), mas uma ideia

tem que ser ao mesmo tempo penosa e sexual para ser

recalcada.

A angústia como sinal, assim, estará ligada a

tudo que pode aparecer no lugar -φ (menos phi), e que 55

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 51-58, 2015
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