Page 14 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaDe um resto que ainda resta: o traço e a lógica

cação seja um processo – uma operação –, fácil de consta-
tar, ela não se configura como algo fácil de conceber. Esse
argumento permite a Lacan reconhecer a alternância que
podemos localizar em seus seminários anteriores, entre a
temática do sujeito e a do significante. Além disso, Lacan
(1961-1962) nos permite reconhecer sua primeira demar-
cação quando afirma que na identificação trata-se da rela-
ção do sujeito ao significante.

Ao retornar à obra de Freud (1921), “Psicologia das mas-
sas e análise do eu”, Lacan nos lembra que Freud define a
identificação como “a mais remota expressão de um laço
emocional com outra pessoa” (FREUD, 1921, p. 133). E
que, em Freud, a identificação se estabelece em três mo-
vimentos, quais sejam: a primeira, por incorporação, é a
identificação ao Pai; a segunda é a identificação ao traço,
permitindo que o eu assuma as características do objeto;
e a terceira, frequentemente reconhecível na histeria, é a
identificação ao desejo.

Se ficarmos tentados a entender as três identificações dia-
cronicamente, envolvidos pela forma ordinária apresentada
por Freud, incorremos em um erro lógico, difícil de solu-
cionar. Algo nesses movimentos inclui uma sincronicida-
de que faz da primeira identificação – ao pai – estabelecer,
por incorporação, o surgimento do corpo, solidarizando-se
à segunda identificação – ao traço – que é aquela que faz
aparecer o sujeito como aquele que conta.

14 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 13-27, 2018
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