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Maria Luiza Bassi
densação e deslocamento dos traços mnêmicos, processo Um lugar êxtimo: possibilidade de uma análise
nominado por Lacan por metáfora e metonímia. Trata-se
de uma primeira decifração de gozo tomada nos signos da
percepção. Em um segundo tempo, entre inconsciente e
pré-consciente, a representação coisa traduzida em repre-
sentação palavra poderá ser transferida para a significação
do discurso consciente. É, através dessas representações,
que o sujeito tenta reencontrar o objeto (VALAS, 2001).
Lacan marca o objeto a como operador de uma diferen-
ça que possibilita a exterioridade do gozo do corpo, con-
figurando, a partir daí, o gozo fálico. O fora-do-corpo do
gozo fálico caracteriza uma anomalia da imagem corporal
na medida em que aí se desenvolve a falta fundamental que
Lacan qualifica por não relação sexual.
Em um determinado tempo de análise, um sujeito diz de
uma sensação de “sentir-se sujo” que o acompanhou pela
vida afora e, só agora, pode dar um nome, dizer dessa sen-
sação.
Em “O Seminário 9: a identificação”, Lacan nos apresen-
ta o toro para representar a estrutura neurótica. Essa su-
perfície topológica se organiza em dois vazios: um interior
e um central que lhe é exterior. O vazio interior permite
o traçado da linha da demanda e do desejo, engendrando
uma espiral. A cada volta da demanda há um encontro com
o nada abrindo para a linha do desejo. O buraco central,
marcado por um vazio, êxtimo ao sujeito da linguagem,
permite o “abraço tórico”, ou seja, um abraço com o Outro,
também tórico. Essa nodulação, estruturante para o sujei-
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 101-108, 2017 105
densação e deslocamento dos traços mnêmicos, processo Um lugar êxtimo: possibilidade de uma análise
nominado por Lacan por metáfora e metonímia. Trata-se
de uma primeira decifração de gozo tomada nos signos da
percepção. Em um segundo tempo, entre inconsciente e
pré-consciente, a representação coisa traduzida em repre-
sentação palavra poderá ser transferida para a significação
do discurso consciente. É, através dessas representações,
que o sujeito tenta reencontrar o objeto (VALAS, 2001).
Lacan marca o objeto a como operador de uma diferen-
ça que possibilita a exterioridade do gozo do corpo, con-
figurando, a partir daí, o gozo fálico. O fora-do-corpo do
gozo fálico caracteriza uma anomalia da imagem corporal
na medida em que aí se desenvolve a falta fundamental que
Lacan qualifica por não relação sexual.
Em um determinado tempo de análise, um sujeito diz de
uma sensação de “sentir-se sujo” que o acompanhou pela
vida afora e, só agora, pode dar um nome, dizer dessa sen-
sação.
Em “O Seminário 9: a identificação”, Lacan nos apresen-
ta o toro para representar a estrutura neurótica. Essa su-
perfície topológica se organiza em dois vazios: um interior
e um central que lhe é exterior. O vazio interior permite
o traçado da linha da demanda e do desejo, engendrando
uma espiral. A cada volta da demanda há um encontro com
o nada abrindo para a linha do desejo. O buraco central,
marcado por um vazio, êxtimo ao sujeito da linguagem,
permite o “abraço tórico”, ou seja, um abraço com o Outro,
também tórico. Essa nodulação, estruturante para o sujei-
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 101-108, 2017 105