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Um lugar êxtimo: possibilidade de uma análiseReal da experiência
Em seu texto “A Terceira”, Lacan situa a experiência do
homem com seu corpo numa dimensão de sofrimento e
mal-estar: “De que nós temos medo? Do nosso corpo”
(LACAN, 1974, p.17). Para a psicanálise, a tomada do corpo
pela linguagem significa que a carne se torna corpo, com
isso o corpo humano muda de estatuto, torna-se um corpo
de discurso. É um corpo que depende das representações
do sujeito e se torna um corpo fantasístico, pulsional. A
angústia estaria associada à impossibilidade do ser falante
(parlêtre) dizer desse corpo. Algo escapa, falha, permanece
sem inscrição.
Lacan parte desse mal-estar no corpo para nos apresen-
tar o nó borromeano, identificando as três consistências
do imaginário, do simbólico e do real, e a interseção onde
se localiza o objeto pequeno a. É nesse lugar de mais-de-
gozar que se conecta todo o gozo. Na interseção entre o
imaginário e o real localizamos o gozo do Outro. Entre o
real e o simbólico está o gozo fálico e entre o simbólico e o
imaginário, o sentido. O que é externo a cada uma dessas
interseções marca o caráter “de fora” como no gozo fálico
“fora do corpo”, como o sentido em relação ao real e o gozo
do corpo em relação ao simbólico.
Lacan conceitua o gozo a partir de “O Seminário 7: a ética
da psicanálise”, de 1960, já marcando aí a captura do gozo
pelo significante. Falar do gozo do Outro, ou gozo do corpo,
é dizer de um momento de constituição em que, a partir da
experiência de desamparo fundamental do recém-nascido,
o sujeito fica marcado de forma indelével e inexorável pelas
102 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 101-108, 2017
Em seu texto “A Terceira”, Lacan situa a experiência do
homem com seu corpo numa dimensão de sofrimento e
mal-estar: “De que nós temos medo? Do nosso corpo”
(LACAN, 1974, p.17). Para a psicanálise, a tomada do corpo
pela linguagem significa que a carne se torna corpo, com
isso o corpo humano muda de estatuto, torna-se um corpo
de discurso. É um corpo que depende das representações
do sujeito e se torna um corpo fantasístico, pulsional. A
angústia estaria associada à impossibilidade do ser falante
(parlêtre) dizer desse corpo. Algo escapa, falha, permanece
sem inscrição.
Lacan parte desse mal-estar no corpo para nos apresen-
tar o nó borromeano, identificando as três consistências
do imaginário, do simbólico e do real, e a interseção onde
se localiza o objeto pequeno a. É nesse lugar de mais-de-
gozar que se conecta todo o gozo. Na interseção entre o
imaginário e o real localizamos o gozo do Outro. Entre o
real e o simbólico está o gozo fálico e entre o simbólico e o
imaginário, o sentido. O que é externo a cada uma dessas
interseções marca o caráter “de fora” como no gozo fálico
“fora do corpo”, como o sentido em relação ao real e o gozo
do corpo em relação ao simbólico.
Lacan conceitua o gozo a partir de “O Seminário 7: a ética
da psicanálise”, de 1960, já marcando aí a captura do gozo
pelo significante. Falar do gozo do Outro, ou gozo do corpo,
é dizer de um momento de constituição em que, a partir da
experiência de desamparo fundamental do recém-nascido,
o sujeito fica marcado de forma indelével e inexorável pelas
102 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 101-108, 2017