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Maria Luiza Bassi Um lugar êxtimo: possibilidade de uma análise

tensões ligadas às manifestações do real que se irrompem.
Tais experiências marcam o corpo e é, a partir do aparelha-
mento da linguagem, que o sujeito poderá representá-las.
Desse modo, o gozo passa a existir no momento em que
falamos dele, podendo, a partir daí, ser delineado pelo dis-
curso. O gozo se torna impossível àquele que fala, podendo
ser dito nas entrelinhas pelo sujeito para sempre dividido
entre o gozo mítico da Coisa e o desejo que vem do Outro.
Desde a aparelhagem do gozo pela linguagem, ele é cifra-
do pela inscrição dos vestígios mnêmicos constitutivos do
aparelho psíquico.

Retomemos a escrita de Freud a Fliess na “Carta 52”, de
1896, na qual apresenta um esboço do que seria a escrita
psíquica, podemos dizer, uma escrita pulsional. A partir de
uma entrada sensorial W (Wahrnehmunge – percepções),
algo seria registrado através de uma indicação de percep-
ção Wz (Wahrnehmungszeichen – indicação de percep-
ção). Essa indicação sofreria uma primeira transcrição Ub
(Ubewusstsein – inconsciência) e uma segunda transcrição
Vb (Vorewusstsein – pré-consciência) ligadas às represen-
tações verbais. Podemos inferir que um traço de percep-
ção é inscrito em Wz, ficando registrado como um traço
mnêmico, signo do que foi percebido, representação coisa
que será transcrita a partir de um aparelho linguageiro em
representação palavra em nível pré-consciente.

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 101-108, 2017 103
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