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Rosana Scarponi Pinto Função de nominação

se insere. Põe em evidência, portanto, uma dimensão da
linguagem que não é a da comunicação e se aproxima da
escrita, da letra.

O conceito de traço unário foi introduzido por
Lacan, a partir da noção freudiana de identificação com
um traço único e apoiando-se na linguística de Saussure.
Segundo Freud (1921), quando o objeto é perdido,
o investimento a ele dirigido é substituído por uma
identificação que é parcial, limitada e conserva apenas um
traço do objeto. Para Saussure, a língua é constituída de
elementos, unidades que só valem pela pura diferença.

Ao invés de traço único, Lacan propõe traço
unário, porque por um lado evoca a contagem e, por outro,
a diferença. Identificado com o traço unário, o sujeito é um
um, idêntico ao conjunto de todos os que passaram pela
castração. Ao mesmo tempo ele adquiriu a capacidade de
se distinguir dos outros, portando uma singularidade por
um único traço, um traço qualquer, sem sentido; marca
identificatória que demonstra que o sujeito é servo da
linguagem.

Portanto, o traço unário não é apenas aquilo que
subsiste do objeto, mas aquilo que o apagou, sendo nesse
sentido a encarnação do significante fálico e sua imagem.
Lacan vai designá-lo como aquilo que funda a essência
do significante. O que esse traço carrega é um suposto
encontro com o objeto (Lacan 24/01/62). A identificação ao

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 71-78, 2016 73
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