Page 72 - Revista Ato_Ano_2_n_1
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Função de nominaçãoProcura-se um nome
Relata que não tendo sido registrada pelo pai,
tinha apenas o sobrenome da mãe. Fez questão, então,
de acrescentar ao seu nome, o sobrenome inteiro do ex-
marido (vindos da mãe e do pai dele). Conheceu o pai na
infância, mas nunca o reconheceu como tal e com ele teve
poucos encontros.
Diante de tantas situações que a analisante
enfrenta pela própria sobrevivência e a de sua família,
surpreendeu-me o fato do nome próprio aparecer numa
escala tão privilegiada, como se o nome que adquiriu fosse
também um item de sobrevivência.
Várias questões surgiram. Se a paciente foi
nomeada pela mãe, o que procura, já que o pai de que trata
a psicanálise é uma função e não a presença do pai em si?
No Seminário IX (1961/62), A Identificação,
Lacan afirma que o nome é o ponto de amarra onde o
sujeito se constitui. Diz que o nome próprio é encontrado
no caminho da identificação do sujeito com o traço unário
do Outro. Buscando fundamentos a este respeito, Lacan
teve a surpresa de encontrar a função desse significante
provavelmente no estado puro, sonoro. Diferente dos
outros significantes cuja função é de representação, o nome
próprio tem uma função distinta. Para demonstrar sua
diferença Lacan refere-se à escrita e à decifração de uma
língua. O nome próprio não se traduz, pois sua estrutura
permanece a mesma, não importando a língua em que ele
72 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 71-78, 2016
Relata que não tendo sido registrada pelo pai,
tinha apenas o sobrenome da mãe. Fez questão, então,
de acrescentar ao seu nome, o sobrenome inteiro do ex-
marido (vindos da mãe e do pai dele). Conheceu o pai na
infância, mas nunca o reconheceu como tal e com ele teve
poucos encontros.
Diante de tantas situações que a analisante
enfrenta pela própria sobrevivência e a de sua família,
surpreendeu-me o fato do nome próprio aparecer numa
escala tão privilegiada, como se o nome que adquiriu fosse
também um item de sobrevivência.
Várias questões surgiram. Se a paciente foi
nomeada pela mãe, o que procura, já que o pai de que trata
a psicanálise é uma função e não a presença do pai em si?
No Seminário IX (1961/62), A Identificação,
Lacan afirma que o nome é o ponto de amarra onde o
sujeito se constitui. Diz que o nome próprio é encontrado
no caminho da identificação do sujeito com o traço unário
do Outro. Buscando fundamentos a este respeito, Lacan
teve a surpresa de encontrar a função desse significante
provavelmente no estado puro, sonoro. Diferente dos
outros significantes cuja função é de representação, o nome
próprio tem uma função distinta. Para demonstrar sua
diferença Lacan refere-se à escrita e à decifração de uma
língua. O nome próprio não se traduz, pois sua estrutura
permanece a mesma, não importando a língua em que ele
72 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 71-78, 2016