Page 115 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Raul Macedo RibeiroA economia pulsional, o gozo e sua lógica
ça da mãe diria respeito, tão somente, a uma modalidade
de desejo autoengendrado, do qual não se ficaria jamais
despossuído daquilo que se deseja ter. Daí serem o dese-
jo edipiano e a sexualidade infantil pontos fundamentais a
partir dos quais a psicanálise se inscreveria como um saber
singular.
No entanto, para muito aquém da dinâmica do desejo au-
toengendrado que se difundiu sob o nome de Complexo de
Édipo, Jacques Derrida, em seu ensaio, “Freud e a cena da
escritura”, nos aponta o seguinte:
É certo que a vida se protege pela repetição, o traço, a dife-
rença. Mas é preciso ter cuidado com esta formulação: não
há vida primeiro presente que viria em seguida a proteger-
se, a adiar-se, a reservar-se na diferencia. Esta constitui a
essência da vida. Melhor: não sendo a diferencia uma es-
sência, não sendo nada, não é a vida se o ser for determina-
do como ousia, presença, essência/existência, substância ou
sujeito. É preciso pensar a vida como traço antes de deter-
minar o ser como presença (DERRIDA, 2009, p. 298-299).
Em uma das passagens do texto de Derrida (2009) – citado
à minha maneira –, encontra-se a ideia de que, se há verda-
deiramente alguma coisa originária na fundação psíquica,
é a não-origem. Quer dizer, a falha, o intervalo. É, pois,
segundo Derrida, “a não-origem que, do ponto de vista psí-
quico, é originária”.3
3 Esse parágrafo foi extraído de um artigo apresentado pelo autor do 115
ensaio, em Paris, no Quatrième Groupe. Tal ensaio intitula-se “L’espace
hégémonique et la clôture de l’activité de représentation”. Trabalho inédito.
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 111-118, 2018
ça da mãe diria respeito, tão somente, a uma modalidade
de desejo autoengendrado, do qual não se ficaria jamais
despossuído daquilo que se deseja ter. Daí serem o dese-
jo edipiano e a sexualidade infantil pontos fundamentais a
partir dos quais a psicanálise se inscreveria como um saber
singular.
No entanto, para muito aquém da dinâmica do desejo au-
toengendrado que se difundiu sob o nome de Complexo de
Édipo, Jacques Derrida, em seu ensaio, “Freud e a cena da
escritura”, nos aponta o seguinte:
É certo que a vida se protege pela repetição, o traço, a dife-
rença. Mas é preciso ter cuidado com esta formulação: não
há vida primeiro presente que viria em seguida a proteger-
se, a adiar-se, a reservar-se na diferencia. Esta constitui a
essência da vida. Melhor: não sendo a diferencia uma es-
sência, não sendo nada, não é a vida se o ser for determina-
do como ousia, presença, essência/existência, substância ou
sujeito. É preciso pensar a vida como traço antes de deter-
minar o ser como presença (DERRIDA, 2009, p. 298-299).
Em uma das passagens do texto de Derrida (2009) – citado
à minha maneira –, encontra-se a ideia de que, se há verda-
deiramente alguma coisa originária na fundação psíquica,
é a não-origem. Quer dizer, a falha, o intervalo. É, pois,
segundo Derrida, “a não-origem que, do ponto de vista psí-
quico, é originária”.3
3 Esse parágrafo foi extraído de um artigo apresentado pelo autor do 115
ensaio, em Paris, no Quatrième Groupe. Tal ensaio intitula-se “L’espace
hégémonique et la clôture de l’activité de représentation”. Trabalho inédito.
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 111-118, 2018