Page 112 - Revista ATO Ano 4 N 4
P. 112
A economia pulsional, o gozo e sua lógicaUm haicai para a psicanálise

que fogem a essa regra estrita. Frequentemente, tais poe-
mas expressam singeleza, mas sobretudo concisão.

O título deste artigo, “Um haicai para a psicanálise”, ma-
nifesta o desejo de se produzir um texto sucinto e de apor-
tar, se possível, singeleza ao escrito psicanalítico. Exemplo
de um belo haicai de Paulo Leminski: “vazio agudo/ando
meio/cheio de tudo”.

Logo após o encerramento de uma sessão, ocorreu ao ana-
lista o seguinte pensamento: a saída para esse analisante
consiste, talvez, em desistir de tentar, de modo tão obstinado,
de se garantir pela via de um saber. Isso, após o analista ter
escutado desse jovem analisante que seus colegas sabiam
como se aproximar das garotas e sabiam como ficar com
elas, mas que ele não sabia e que esperava de uma análise
o saber que resolvesse o seu problema. O analista, por sua
vez, não sabe, de antemão, o que fazer. Não deve, também,
o psicanalista desistir absolutamente do saber garantidor?
Não seria, também, essa a saída para o analista e para o
exercício da psicanálise?

Não há, no campo psicanalítico, certeza prévia. Não há,
tampouco, teoria alguma capaz de, por si só, assegurar ao
analista o seu fazer. Além da longa e difícil jornada de o
devir psicanalista, alguns conceitos, os quais não podemos
perder de vista, norteiam a empreitada clínica. Por isso, re-
tomo, neste escrito, o velho e esquecido conceito de Édipo
e o que dele se pode deduzir: o desejo edipiano.

112 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 111-118, 2018
   107   108   109   110   111   112   113   114   115   116   117