Page 101 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Viviane Gambogi Cardoso

O campo pulsional na adolescência sofre um deslocamento.
A pulsão que até então fora predominantemente autoerótica,
como diz Freud (1905), encontra um objeto sexual.
Consequentemente, um novo objetivo sexual aparece, e há
uma combinação das pulsões parciais para atingi-lo. Verifica-
se a primazia da zona genital em detrimento de outras zonas
erógenas, sem, no entanto, abandoná-las.

Essas transformações trazem as marcas da infância, como A economia pulsional, o gozo e sua lógica
mostra Freud, mas concomitantemente rompem com uma
linearidade desenvolvimentista e abrem caminhos para
se pensar nas falhas, desencontros que podem emergir
desse processo. Isso se verifica quando Freud fala da
impossibilidade da confluência almejada das correntes
terna e sensual, que se dá a partir da escolha de objeto. Ele
fala desse desencontro ou do impossível desse encontro pela
metáfora do túnel que se escava pelos dois lados diferentes
até chegar ao centro. Isso nos remete à seguinte fala de
Sônia Alberti: “Diante dos impossíveis – a relação sexual,
A Mulher, a castração –, o sujeito é fundamentalmente
desamparado, e o adolescente se depara com isso de um
modo sem retorno” (ALBERTI, 1999, p. 10).

O sujeito adolescente advém desse desamparo, do 101
desencontro, da falha do Outro que o impele ao desligamento
dos pais e o faz buscar novos paradigmas. A queda dos
antigos ideais afasta-o, cada vez mais, dos seus genitores e,
consequentemente, gera um estranhamento entre ambas
as partes. Os filhos também caem como objeto do Outro, ou

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 97-107, 2018
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