Page 105 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Viviane Gambogi Cardoso

de uma atuação. O suicídio se inclui aí, onde não há A economia pulsional, o gozo e sua lógica
compreensão, mas, momento de passagem ao ato. Como
diz Lacan (1945), único ato bem-sucedido. Nem sempre
carrega a intenção de morrer, mas sim de dizer algo que
não foi possível. Sônia Alberti diz ser um ato de coragem
por ser uma “tentativa de dar conta dessa inconsistente
leveza do ser, tentativa de impor uma força do pensamento
que muitas vezes pode levar ao pior: a morte” (ALBERTI,
1999, p.10). E que acontece, normalmente por engano, ou
seja, há um erro de cálculo, um exagero na dose do remédio,
por exemplo, usado para morrer. Muitas vezes, o sujeito só
queria dizer algo. A tentativa de suicídio na adolescência
implica um apelo ao Outro. Como diz Sônia Alberti (1999),
nunca é apenas despedida da cadeia significante.

Há vários autores que falam sobre a tendência a agir do
adolescente. No entanto, não abordarei neste texto as
diversas teorias sobre o tema, mas apenas enfatizarei a
unânime opinião a essa tendência e à constatação estatística
de um alto índice de suicídio nesse período.

Além disso, é importante pensar na questão do ato a partir
da estrutura do sujeito e dos três registros: real, simbólico e
imaginário. Daí a importância de um diagnóstico diferencial
para não confundirmos, como foi dito anteriormente, uma
crise de adolescência com uma psicose. Como analistas,
devemos nos perguntar o que está em jogo na adolescência
através de uma escuta apurada de suas demandas. Estas
são um apelo ao Outro, que, quase sempre, se confundem

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 97-107, 2018 105
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