Page 114 - revista_ato_topologia_e_desejo_do_analista_ano3_n3
P. 114
Corpo, gozo e lalangueReal da experiência

p. 19). Em “O Seminário 20: mais ainda”, Lacan expres-
sa: “[...] o que há sob o hábito, e que chamamos de corpo,
talvez seja apenas esse resto que chamo de objeto a” (LA-
CAN, 1972-1973, p.14). O objeto a é o ponto do corpo que
foi marcado pela letra com lalangue. Lalangue é puro som,
e a letra se expressa como sons de lalangue, que são efeitos
de afetos. Em “O Seminário 10: a angústia”, Lacan afirma
que “o objeto a é a libra de carne” (LACAN, 1962-1963,
p.139).

Como operar com isso que foi cifrado na carne? Jota diz:
Fiz uma entrevista, e pediram-me pra fazer um curso em
outra cidade. Posso ir semana que vem, na seguinte ou na
terceira semana. Mas decidi: vou fazer isso já. A analista:
Vai fazer e sujar? Ele ri. Quinze dias depois a analista se
depara com o rosto de Jota cheio de pequenos machucados.
O gozo do corpo é fora linguagem, é puro real, vai ser mar-
cado pelos sons da linguagem.

“Vou fazer isso já” – é o significante na superfície tórica,
na superficie da linguagem, é aí que aparecerá a verdade
S2. Na transferência, o analista desarticula essa verdade e
faz aparecer – vai fazer e sujar – saber inconsciente. Nes-
te momento, o sujeito não comparece, o sujeito é barrado,
pois este é o campo do real, o campo fora linguagem. O
corte do analista no S2 faz aparecer o conjunto de letras
(v.a.i.f.a.z.e.r.e.s.u.j.a.r). Esse conjunto de letras é o mais
morto e o mais vivo na estrutura. Morto porque mata o sim-
bólico, vivo porque é marcado pelo afeto. Campolina, em
seu seminário de 2016: “Abordagem topológica da presen-

112 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 109-115, 2017
   109   110   111   112   113   114   115   116   117   118   119