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Nilza Ericson Faz-se topologia com o desejo do analista?

recusa porque “não é isso”. O sujeito como corte está pri-
vado do acoplamento com o objeto e é no “oito interior”,
no “desdobramento sobre si mesmo que vemos aparecer o
que ele encerra e o que diz respeito à constituição do dese-
jo” (LACAN, 1961-1962, p. 266).

Os cortes que interessam são aqueles que mudam a estru-
tura do discurso do analisante. O toro mostra que é preciso
o corte de dupla volta para extrair o sujeito, puro corte, sem
nenhum complemento para restaurar a união ilusória (fan-
tasmática) com o objeto.

Se a topologia é a estrutura, onde situar o lugar do desejo
nestas superfícies, no toro e na banda de Moebius? E, ain-
da, no nó Borromeu?

A topologia das superfícies nos anos 1960 permitiu a Lacan
uma escritura da estrutura, durante os anos 1970 será à
escritura topológica dos nós a qual vai se dedicar. Os três
registros RSI já eram utilizados como referência de um
enodamento das três dimensões do espaço. Quando Lacan
inventa a escritura do nó, vai reafirmar: “O nó é a estrutu-
ra”. Rompe com o recurso ao modelo, à analogia e à me-
táfora. O nó Borromeu, é preciso fazê-lo. Trata-se de atar,
a partir de três, os elos RSI de forma homogênea, sendo
heterogêneos entre si. Os elos se sustentam pela materia-
lidade real de seu enodamento. Se se retirar um dos elos,
os outros dois se soltam; é o que caracteriza a propriedade
borromeana do nó.

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 9-18, 2017 15
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