Page 13 - revista_ato_topologia_e_desejo_do_analista_ano3_n3
P. 13
Nilza Ericson Faz-se topologia com o desejo do analista?

Segundo Lacan:

Este desejo é o eixo, o pivô, o cabo, o martelo graças ao
qual se aplica o elemento força à inércia que há por trás
do que se formula como demanda no discurso do anali-
sante (LACAN, 1996, p. 222).

Em que se baseia o discurso do analisante? No circuito da de-
manda que enoda o desejo. Sua demanda fundamental assim se
articula: eu te peço que recuses o que te ofereço porque não é
isso, sendo o “não é isso” aquilo que não se pode falar. O pró-
prio da demanda é não poder situar o que se refere ao objeto do
desejo.

Essas frases são tratadas por Lacan como o enodamento da es-
trutura do sujeito. Vai situá-las na topologia das superfícies e
dos nós.

É o nó Borromeu que vem escrever topologicamente esse eno-
damento da estrutura: as três frases sustentam essa estrutura,
pois se se retira uma delas, as outras duas se desatam, como
afirma Lacan em “O Seminário 19: ... ou pior”: “O enodamento
dos três registros real, simbólico e imaginário do modo Borro-
meu foi uma descoberta que ‘me caiu como um anel no dedo’”
(LACAN, 2012, p. 88).

Há uma relação terciária nas frases entre os três verbos:

Eu te peço.................................emissor..................pedir
Que me recuses.......................destinatário...........recusar
O que te ofereço......................oferta.....................oferecer
Porque não é isso.....................objeto a

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 9-18, 2017 11
   8   9   10   11   12   13   14   15   16   17   18