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Rosângela Gazzi Macedo

Assim, um resto da necessidade, não recoberto pela de-
manda, insiste no real. Na margem, em que a demanda se
separa da necessidade, inscreve-se o desejo.

É justamente a incidência do significante nas necessidades As formações do inconsciente e o desejo do analista
que marca a existência de um desvio, há alguma coisa que
não funciona. Mas algo surge e restabelece esse desvio e se
apresenta como esse “para além”, que é o que chamamos
de desejo. Por isso, o desejo articula-se necessariamente na
demanda, só podemos nos aproximar dele por intermédio
de alguma demanda.

O desejo é, na realidade, a insatisfação permanente
da linguagem, a defasagem entre toda intenção e toda
demanda, em que nunca se obtém o que se pede. Lacan
constrói o grafo do desejo, apoiando-se na insatisfação; há
uma defasagem permanente entre o campo do sujeito e o
campo do Outro.

Lacan faz uma importante contribuição para a clínica, ao
introduzir que não basta operar com o conceito de grande
Outro, mas é preciso operar com sua relação com o desejo.
Antes o lugar do Outro era pensado como lugar da fala, um
lugar abstrato, anônimo, quase imortal, e, por outro lado,
tínhamos o que pertence à ordem do desejo, da sexualida-
de, que ele, no começo, remetia à ordem imaginária.

A partir de “O Seminário 5: as formações do inconsciente”, 35
o desejo, que até então era definido essencialmente pelas
capturas imaginárias, transforma-se numa metonímia da
cadeia significante, encontrando uma definição no simbó-

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 33-40, 2017
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